ACIDENTE - Explosão em Gondelim matou jovem de 29 anos e fez mais de duas dezenas de feridos
Uma explosão decorrente de um
acidente com material pirotécnico, na localidade de Gondelim, concelho de
Penacova, causou ontem um morto e 24 feridos - dois em estado crítico, três em
estado grave e 19 com ferimentos considerados ligeiros.
A tragédia deu-se no adro da
Capela de Nossa Senhora da Moita, pelas 12h30, enquanto decorria a missa que
marcava o início das festas da localidade e numa altura, segundo informações
recolhidas no local, em que uma das pessoas que manuseava os foguetes se «encontrava a prepará-los para o espectáculo
pirotécnico no final da procissão», que iria decorrer após a eucaristia.
«A potência da explosão foi de tal forma que a parede da capela e as
janelas de algumas casas à volta estilhaçaram», explicou Alípio Martins. O
popular, que reside em Coimbra, mas que possui uma habitação em Gondelim,
afirmou que «ouviu duas explosões quase
em simultâneo, a segunda mais forte que a primeira», e que a sua reacção
imediata foi «colocar as mãos na cabeça
para não ser atingido com os estilhaços».
No momento em que ocorreu o
acidente a capela «estava repleta»,
o que motivou um «grande alvoroço»,
revelou Arménio Branco, que no preciso momento em que se deu a explosão se
encontrava no interior da capela a assistir à missa. «Não sei bem explicar o que se passou, mas a força e o impacto da
explosão sentiu-se bem no interior da igreja». «Parecia uma bomba», vincou.
«As pessoas tiveram de sair pela porta
principal o que gerou alguma aflição», acrescentou.
Ainda de acordo com populares
que se encontravam junto da capela no momento, «a quantidade de material pirotécnico era elevada», uma vez que
estariam «encostados à parede» do
“templo” «perto de 25 dúzias de foguetes»,
que antes de serem lançados «estão
armazenados em molhos».
O acidente mobilizou para o
“teatro de operações” perto de 73 elementos, apoiados por 32 viaturas de várias
corporações de bombeiros, tendo, igualmente, sido mobilizados três
helicópteros.
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Helicópteros do INEM acionados para Gondelim |
Cinco
crianças entre os feridos
O responsável adiantou ainda
que entre os feridos ligeiros encontravam-se «cinco crianças» que foram
encaminhadas para o Hospital Pediátrico de Coimbra, cujas idades rondariam os
«5 e 16 anos» (três do sexo masculino e dois do feminino). Carlos Luís Tavares
especificou que o «acidente teve origem
em explosivos pirotécnicos», adiantando que, apesar de não se saber a
origem da ignição, é claro que «algo
deverá ter corrido mal para motivar a explosão». Carlos Luís Tavares
sublinhou ainda que à hora do “briefing”, cerca das 15h30 de ontem, «já não existiam feridos no teatro das
operações», estando «todos
encaminhados».
Já de acordo com a médica do
INEM, Paula Neto, «as vítimas
apresentavam queimaduras e situações de trauma grave», originados ou pelo
impacto da explosão ou pelo pânico que se gerou após o acidente.
No terreno estiveram
igualmente «equipas que prestaram apoio
psicológico às vítimas» e, posteriormente, aos familiares das mesmas, tendo
em conta que logo após o acidente muitos dos presentes não tinham conhecimento
do estado de saúde dos seus familiares.
Aliás, a consternação da
população era bem visível, com pessoas a correr de um lado para o outro para
tentar obter informações sobre familiares que se encontravam ou no interior ou
nas imediações da Capela de Nossa Senhora da Moita.
A única vítima mortal, até ao
momento registada do acidente, era de Torres do Mondego, freguesia do concelho
de Coimbra. André Videira Baptista, de 29 anos, funcionário do Hotel Vila Galé
em Coimbra, morava em Ceira e estava ao serviço da empresa Pyrocantanhede. A vítima,
que estaria a manusear os foguetes na altura da explosão, não resistiu aos
ferimentos provocados e o óbito seria confirmado no local. Já o outro elemento
da mesma empresa, que sofreu ferimentos muitos graves, reside em Fermentelos
(Águeda) e tem «uma vasta experiência no
manuseamento deste material».
PJ
e PSP investigam acidente em aldeia do concelho de Penacova
A Polícia Judiciária (PJ) e a
Polícia de Segurança Pública (PSP) estiveram ontem no terreno a recolher
elementos de prova para proceder à investigação do acidente que vitimou um
jovem e feriu 24.
«Neste momento, ainda não conseguimos avaliar o que aconteceu. Os
peritos estão a fazer essa averiguação para identificar as causas desta
tragédia», afirmou o presidente da Câmara de Penacova.
Humberto Oliveira, que na
altura da ocorrência tinha acabado de chegar à localidade, onde reside o seu
pai, adiantou ser «normal depois da
missa decorrer a procissão e no final a salva de fogo, com alguma dimensão».
«Aquele fogo estaria preparado para esse momento do pós-procissão»,
frisou, referindo que as pessoas responsáveis pelo espectáculo de pirotecnia
seriam «provavelmente de fora do
concelho», já que não conhece nenhuma entidade em Penacova com licença para
operar nessa área.
O autarca assume desconhecer
se é normal o material pirotécnico estar junto à capela. «A verdade é que estava. Temos que avaliar todos as nossas
responsabilidades e aquilo que temos que mudar. “Em casa roubada, trancas à
porta”. Temos que ser mais cuidadosos para que estas situações não aconteçam.
Não faz sentido acontecerem», referiu.
Já Carlos Tavares, Comandante
Distrital de Operações de Socorro de Coimbra (CODIS), confirmou a presença de
elementos da PSP e PJ no local, com o intuito de «averiguar a situação para se tentar perceber como aconteceu a explosão».
As Festas de Nossa Senhora da
Moita começaram ontem e decorriam até domingo com um programa bastante extenso,
onde a vertente religiosa e musical imperava. Durante esta semana, emigrantes e
pessoas de vários pontos do país regressam à aldeia, do concelho de Penacova,
que possui cerca de 250 habitantes, para as festas da sua terra natal.
Ricardo
Busano – Diário de Coimbra
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